sexta-feira, 28 de outubro de 2011

29 de outubro - Glória e Itamar

Gente, parece brincadeira, mas são duas horas da manhã e eu não consegui dormir, ainda, de tanto pensar em uma família que foi muito amiga nossa quando éramos adolescentes/crianças.
Confesso que já me deitei duas vezes, liguei o aquecedor, porque aqui tá um frio do kct, li, vi TV, joguei... nada me fez dormir pensando nesses danadinhos.
Daí tive de levantar e vir aqui escrever sobre eles, senão minha mente não me dá descanso e não dorme enquanto eu não o fizer.
Meu processo de escrever é muito engraçado. Normalmente, eu "ouço" uma frase dentro do meu cérebro (psiquiatra nela!) e aquilo vai martelando, martelando e acaba formando o texto. Daí, enquanto eu não escrevo, fico em estado de vigília.
Vamos lá, então. Vou gostar de escrever sobre isto.
Primeiro eu tenho de explicar que  na minha casa sempre fomos muito incertos ou inseguros quanto a religião. Eu me lembro de que éramos obrigados a assistir a missa aos domingos para poder, depois ir para o Oásis Clube. Frequentamos o catecismo, fizemos a primeira comunhão e eu me lembro até de ter sido catequista na igreja da Lagoinha.
Mas eu acho que não era uma coisa muito assim integrada, tipo pai, mãe e filhos.
Pois... falou!
Quando chegou numa determinada época, minha mãe "virou" espírita e começou a frequentar um centro kardecista no bairro do Bonfim. Era à noite e um de nós sempre era obrigado a ir com ela.
Ora, não bastasse o Bonfim ser o bairro do cemitério, ainda ia meter espírito no meio. Eu me lembro que eu me borrava enquanto estava lá... mas éramos obrigados a ir... tipo o "habeas corpus" dela.
Depois, sei lá porque cargas d'água ela se tornou umbandista e passou a frequentar um centro espírita na rua Pitangui, que era do seu Didi.
Neste centro tinha um senhor chamado Itamar. Ele sempre muito ativo, atendendo a gente, muito caridoso, generoso, afável, educado... sei que acabamos a começar a nos relacionar com ele e com a mulher dele, a Glória.
Não sei como os filhos deles entraram nesta história, mas talvez em decorrência da amizade que se formou entre nossos pais.
Eram - ambos os casais - profícuos em filhos. Meus pais tinham eu (eu sei... o burro sempre por último, mas gosto de subverter a ordem), Ellen, Simone, Joãozinho e Fernando. Eles tinham Sérgio, Cláudio, Eduardo, Daniel, Fernando e Érica (não sei se o Daniel era mais velho do que o Fernando ou vice-versa).
O Sérgio era o homem da turma. Pouco nos relacionávamos com ele. Hoje, quando penso, imagino que ele fosse uns quatro anos mais velho do que eu o que, naquela idade, eu com uns 13 para 14 anos, me colocava na qualidade de uma fedelha em face de um adulto. Morreu jovem, de infarto. Acho que não tinha nem 30 anos... uma vozinha aqui dentro da minha cabeça está me dizendo que ele tinha 28 anos, mas juro que não sei se isto é  lembrança minha.
O Cláudio foi o que mais conviveu conosco. Um palhaço. Fazia a gente rir o tempo inteiro.  Exímio contador de piadas. Viajamos para o Barro Preto (Conceição da Aparecida - MG, uns 500 km de BH, mais ou menos) algumas vezes, juntos. Eu me recordo de uma vez que fomos 6 no fusquinha do Itamar: meu pai, minha mãe e Cláudio atrás e Itamar (dirigindo), Glória e eu na frente. A gente era muito doido mesmo... imagina!!! Viajar este tanto com 6 pessoas dentro de um fusca.
Tem também um lance que eu agora não me lembro mais se foi com o Cláudio ou com o Alessandro (um amigo de Anápolis - GO) e que aconteceu na estrada entre duas fazendas. A gente vivia trançando de uma fazenda para a outra e desta vez estávamos indo dormir sabe Deus lá onde. De repente o que eu não me lembro se era o Cláudio ou o Alessandro (que sumiu na bruma do tempo) veio meio saltitante e dizendo: "a minha também é cor-de-rosa". Como a Ellen estava de calcinha cor-de-rosa ou achou que estava, foi uma piada, seguida de imensos ataques de risos, porque ele estava falando era da escova de dentes que, nestas alturas, devia estar na mão, balançando por ali, no meio daquela névoa de bosta de vaca (engraçado, naquele tempo a escova de dente podia ficar dentro do banheiro, com a tampa do vaso aberto e ninguém falava em contaminação... como e(in?)voluímos!).
O Eduardo já era a cara do pai dele. Lindo, de olhos azuis. Eu achava ele um pouco parecido com o Sérgio. Todo cheio de trique-trique... um gentleman.
O Daniel, um querido, com aquele cabelo lisinho e aquela franjinha caindo por cima das sobrancelhas. O Fernando eu achava ele muito engraçado, mas não sei bem explicar porque. A lembrança que eu tenho é de que ele falava meio anasalado e eu me lembro perfeitamente do som dele falando da "tia Sininha".
Érica seguia a mesma relação minha no que toca ao Sérgio... era uma fedelha... hahahahahaha... ela devia ser uns 15 anos mais nova do que eu, mais ou menos... então, lá pelo meio da minha adolescência e início da idade adulta não tinha mais do que 4 a 6 anos.
Nas festas de final de ano (naquela época não se falava "reveillon") a gente ia para a casa do "seu" Antônio Macário, que ficava do lado da casa da mãe da Glória e uma lembrança viva que eu tenho na memória é o disco (hahahahaha... naquela época era disco, cara!) do tim Maia cantando na maior altura: "hoje é dia de Santos Reis... anda meio esquecido, mas é o dia da festa de Santos Reis..."
Acabei me perdendo desta gente querida que integrou por tanto tempo a minha vida. Não fui às suas formaturas, casamentos, batizados de filhos, aniversários...nada!
Quis Deus que o meu pai morresse no Espírito Santo e fosse enterrado lá, como era a vontade dele e o Itamar (eu acho que pouco tempo depois, em Belo Horizonte). Não nos encontramos nem nos enterros.
Glória e mamãe estão vivas até hoje pela graça do S.A.U.
Quando voltei para Belo Horizonte, depois da minha aposentadoria, acho que a primeira pessoa que visitei - antes mesmo da minha tia - foi a Glória.Vocês não imaginam que alegria for retomar aquela história, não no momento em que ela parou, porque o tempo é inexorável, mas no tempo certo fixado pelo homem lá de cima e ver como ainda existia (e existe) amor, harmonia e unidade entre nós. Sem contar que filei a bóia lá duas vezes e estava deliciosa.
Depois que eu vim para Lisboa, tem uma semana, mais ou menos, mandei um recado para a Érica, pelo Facebook, porque tinha sonhado com o Cláudio a noite inteira.Nem sei o que que era o sonho, se era bom, se era ruim. Só achei esquisito porque eu tenho um sono tão pesado QUANDO e DEPOIS que durmo que nunca me lembro dos meus sonhos... nem o que era e nem quais eram os personagens... mas ela me tranquilizou e me disse que estava tudo bem.
Hoje, também não sei explicar porque, a lembrança desta família querida não me deixou dormir e estou eu aqui (e agora já são mais de três da madrugada) lembrando destas coisas que nos aconteceram.
Talvez seja porque sou uma pessoa meio apátrida, no que diz respeito aos amigos. Eu fui embora para o Espírito Santo aos 26 anos de idade, deixando para trás meus amigos de infância, meus colegas de escola e de faculdade e acabei perdendo o contato com praticamente todos eles. Aliás, fiquei super, ultra, mega feliz quando o Rubio Carneiro Moreira, que tinha sido meu colega de faculdade me encontrou pelo site do MPES.
No momento em que eu me adaptei no Espírito Santo, adquiri novos amigos - alguns do coração, como a minha comadre Nery, por exemplo - completei o tempo para a aposentadoria e voltei para Belo Horizonte.
Assim, não sei onde andam meus amigos de infância e colegas de estudos e sei que os amigos que fiz na vida adulta - pessoal e profissional - estão a 530 km de Belo Horizonte.
Já combinei com os "meninos" da Glória e do Itamar que têm facebook que assim que eu voltar para Belo Horizonte, em dezembro, vamos nos encontrar para relembrar um pouco daquelas histórias e rir muito delas. Confesso que estou ansiosa para isto, que para mim soa a resgate de um pedaço da minha identidade estilhaçada.
Quem sabe não foi por isto - por esta ansiedade contida, por esta antecipação - que eu tenha ficado pensando neles quase a noite inteira?
Então, se foi... me esperem, pessoal. Tô voltando!

Um comentário:

  1. Bom dia Mônica, aqui no nosso grande Brasil, Na nossa capital Brasília, são 04:45 de segunda-feira (07/12/2020)
    Realmente foi assertiva em quase tudo. Detalhe que é permitido para uma irmã de alma. O Sérgio faleceu com 27 anos e o Daniel é o mais velho na hierarquia da família.
    E sempre muito emocionante e prazeroso falar com você, pois infelizmente somente nós sabemos o amor mutuo entre as famílias. Existe a distância territorial , mas sempre juntos e nos falando. Você sabe com a mamãe ama vocês e tem todos vocês com filhas(os). Tem coisa que não tem como explicar, às vezes por si só já está explicado, né.
    Obrigado por tanto carinho por nós e trazer tanta alegria quando nos reunimos e sempre com muito sorrido de alma.
    Vamos nos encontrar sim e celebrarmos a vida.. Fica bem, super beijo e se cuide... Fernando

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