quinta-feira, 3 de novembro de 2011

03 de novembro - Confissões

Acabei de chegar do El Corte Inglés com este post martelando na minha cabeça... inclusive o título: confissões.
Vinha me lembrando da minha fase Zé Mauro de Vasconcelos, quando li, dentre uma dezena de outros, o "Confissões de Frei Abóbora".
No livro ele diz: "Deus! Deus! Você é o maior filho da puta que eu conheço!"
E eu, naquela minha revolta adolescente da época, cheia de ares ateístas, puta da vida com Deus, porque ele não tinha se revelado aquela fada madrinha que me disseram que ele era e que não balançava a porra da varinha mágica para transformar a minha vida! Afinal de contas, alguém tinha me mentido: ou Deus não era aquilo tudo que me disseram ou, então, era balela que se eu fosse uma boa menina Ele seria bom comigo!
hahahahahaha
Hoje eu vinha pensando exatamente nisto... "Ele" (gostava mais quando escrevia Êle, me referindo a Deus... o circunflexo dava uma certa respeitabilidade ao Supremo Arquiteto do Universo) é realmente um fdp... um fdp do bem... um sacana... mas, principalmente um condutor de pessoas e destinos, umas coisas se misturando com as outras: às vezes os destinos das pessoas é apenas o seu interior.
E... aprendi!
Iniciei este blog, em fevereiro de 2011 (acho) com a intenção de dar a saber aos meus parentes e amigos como estava sendo a viagem, o que de novo eu estava vendo, como eu estava... coisas assim: pitorescas, engraçadas, micos...
Aos poucos fui descobrindo que estava escrevendo para mim própria e que a viagem - inversa à feita por Cabral - era uma volta para o meu interior.
Se vocês olharem bem, de uns tempos para cá as fotos vêm escasseando, para beneficiar os textos. Estou muito mais inspirada do que plástica.
Descobri que a agitação inicial por causa do blog foi esmorecendo e hoje recebo a visita de algumas categorias de pessoas: as que comentam e assinam; as que comentam anonimamente porque não sabem se cadastrar no blog; as que comentam e não assinam porque se esquecem, as que comentam em outras sedes, tipo o Facebook, por exemplo e as que não comentam porque têm vergonha, recato, pudor ou o que seja.
Descobri, mais, que viver em Lisboa é praticamente a mesma coisa que viver em Vila Velha ou em Belo Horizonte, desde que eu me disponha a dar uma passadinha pelo psiquiatra de vez em quando (mas isto eu faço em qualquer uma das três).
Descobri que a idade me está tornando cada vez mais eremita e, com tristeza, descobri que gosto disto.
Em contrapartida, descobri que aposentadoria não é ócio, nem é obrigação de fazer alguma coisa só para justificar que não se está ocioso.
Redescobri o prazer de andar a pé, devagar e olhando as coisas. Não dirijo desde o dia 18 de março de 2011. Será que ainda sei pegar num carro?
Reencontrei a minha disposição de andar por e para mim mesma: olhar vitrines, ir ao cinema, sentar no parque para ler ou fazer tricô.
Não preciso justificar minhas atividades - ou inatividades - nem para mim mesma, hoje em dia.
Descobri que amo meu filho, Diego, esteja ele em qualquer lugar do mundo que ele estiver e esteja eu em qualquer lugar do mundo que eu esteja. E que somos uma família tão pequenininha, nós dois, que caberíamos num dedal.
Muitas amizades verdadeiras afloraram.  Outras se solidificaram. Laços de parentesco se estreitaram e outros se afrouxaram ainda mais.
Descobri que posso "enfrentar" a indigência social e que, incoerentemente, ainda assim, mesmo me tornando uma ermitona (esta palavra existe?), isto me repugna. Hoje, quando eu ia para o El Corte Inglés uma pessoa passou de carro, buzinou para mim e abanou a mão. Depois (sou lesada mesmo) é que descobri que era uma das senhoras que vendem lembrancinhas de Portugal aqui no Alto do Parque. Fiquei feliz com aquilo... estou viva, afinal!
Fui ver outro filme hoje - Amor Estúpido e Louco (e morri de dar gargalhada sozinha no cinema) - e quando saí do cinema fui comprar meu indefectível sanduichinho da noite (tenho algum trauma... medo de passar fome de noite... acho que isto já me aconteceu em alguma "encadernação" passada...) dei de cara com um cara moreninho que atende na loja e ele olhou para mim, começou a sorrir (consegui enxergar as covinhas dele) e foi logo pegando os sanduíches que eu tenho costume de comprar.
Então não sou mais tão socialmente indigente quanto eu pensava que era.
Descobri, finalmente, que gosto da minha casa e que ela, com seus cheiros característicos, também me faz falta e que quero, profundamente, construir um jardim lindo e muito florido na Cuia.
Vou brincar de casinha, agora, em dezembro... com licença aos outros que têm atividades mais nobres para fazer.

3 comentários:

  1. Pode ter certeza esta é a mais nobre!!!!!!!
    Telma.

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  2. Ô,Menina! O blog fez com que eu me apaixonasse e conhecesse muito melhor,esta Mônica ,sensível !
    Texto lindo!
    Cada vez melhor !
    Beijo ..

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  3. Mônica, vc é muito engraçada!!! Lembrei da música do Egotrip Viagem ao Fundo do Ego daquela época que as músicas tinham sentido!!! É muito bom dar um tempo para curtir nós mesmas, de olhar para dentro sem cobranças!!!
    Tenho que te informar que sou da 'categoria daquelas que não sabem assinar o comentário, então vc terá várias versões até eu aprender, estou por enquanto assinando anônimo, é mais fácil, rsrsrs... Fika com Deus.
    Penha - ES

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