segunda-feira, 7 de novembro de 2011

06 de novembro

Por acaso alguém aí notou que eu andei meio caladinha?
Pois é... como new cinéfila, anteontem fui assistir um filme chamado (aqui) 50/50. É um filme em que o cara descobre que tem um caso raro de câncer e, como diz a sinopse "com a ajuda do seu melhor amigo, da sua mãe e duma jovem médica, Adam vai descobrir o que a vida tem de mais importante".
Não preciso dizer que o filme mexeu comigo, né?
Primeiro, pelo câncer, que é um troço que eu ainda não digeri na minha vida, por causa do velho João Batista.
Segundo, porque me fez revivermuito do que eu vivi em 2008, quando tive o "problema", principalmente quando via aquele "melhor amigo" se virando de tudo quanto é jeito para tornar melhor a vida de um cara que era um morto em potencial.
Isto me deu muita saudade da minha comadre Nery e fiquei me lembrando dela quando eu estive doente em 2008 e da maneira como pude - como sempre pude (caralho! o enterro do meu pai foi ela que providenciou!) - contar com ela. Claro... com toda a minha família também... se não fosse o Humberto, meu cunhado, e sua desorientação, talvez eu não estivesse viva hoje.
Mas... deixei o tempo passar um pouquinho, mesmo porque saí do cinema no "glut...glut..." para não chorar e vim embora pra casa tentando não chorar e fiquei um dia inteiro pelo menos tentando nao chorar. O meu impulso era chegar aqui e escrever logo... botar aquilo tudo pra fora, mas resolvi esperar. Tenho um pouco de pudor em esfregar minhas feridas nas caras alheias.
E isto foi bom, porque eu comecei a me lembrar de algumas coisas engraçadas (agora elas são engraçadas) que me aconteceram em 2008, naqueles 22 dias em que estive hospitalizada.
Lembrei da idiota da Katia Gujansky falando no telefone com a Ellen, no dia que eu fui fazer o exame, que lamentava não poder ir junto, pois queria ficar rindo quando eu ficasse peidando depois (só uma cretina como a  Kátia teria uma idéia desta).
Me conscientizei (e me desculpem o "me" na frente, mas tem hora que ele "cabe", mesmo incorreto) de que não sei, nem me vi entrando na sala de cirurgia.
Lembrei de Nery e Licéa meio que me carregando para fazer um exame no Hospital Santa Mônica, antes da cirurgia e eu vomitando. E a Licéa, que a gente não pode falar nem bosta perto dela, porque ela tem nojo e vomita.
E por falar em vomitar, lembrei da primeira vez que meu irmão Fernando entrou na UTI. Eu de sonda naso-gástrica e a primeira coisa que eu fiz foi vomitar. Fernando filho da puta... foi dormir comigo e dormiu a noite inteira! hahahahahaha
Ah!  E por falar em primeira coisa, me lembrei da primeira coisa que a minha mãe me falou quando entrou na UTI pela primeira vez (eu devia estar sem comer a uns 6 dias, dos meus 11 dias de jejum total): "Minha filha, fiz uns biscoitinhos de polvilho hoje que ficaram uma maravilha e trouxe para o pessoal da UTI." hahahahahaha... caralho! eu quero um biscoito de polvilho daquele até hoje.
Lembrei daquela idiota daquela médica clínica geral, com cara de puta e o vestido enfiado no rego que queria me botar no soro de novo (depois de uns 17 dias) e, como eu não aceitei, ela me fez tomar não-se-quantos litros de água de côco a noite inteira. E, aí, da dedicação da minha cunhada Sandra, que tinha ido dormir lá comigo, me colocando para mijar (claro!) a noite toda... até que por fim eu concluí que era mais fácil botar fralda.
Lembrei da dedicação do Dr. Vauban - e acho que não era de medo de eu entrar com ação nenhuma contra ele - que ia me visitar até 6 vezes ao dia.
Lembrei daqueles idiotas daqueles enfermeiros que me injetaram antibiótico puro na veia e eu quase tive um choque anafilático.
A alegria de tomar o primeiro banho debaixo do chuveiro e lavar a cabeça.
O pânico quando entrou um moribundo que tinha tido um infarto.
Dois colegas que foram no hospital me pedir voto para uma campanha profissional (tem gente que é muito sem noção, né?).
A gracinha do Ulysses Gusman renovando minha licença para tratamento no IPAJM.
Eu andando de ambulância, para ir no hospital da UNIMED (Kátia junto...mas acho que ela tava no carro) pra ver se tava tudo legal para a minha alta daí a uns dias. E a indiferença das enfermeiras quando me sujei toda de merda e de líquido de contraste... passando ao largo daquela cama como se fosse um manequim que estivesse lá, sem sequer cogitar de trocar o lençol. Gente, é muita indigência... mesmo que não seja no SUS... indigência não de tratamento, mas de falta de sensibilidade e de solidariedade humana.
...mas...sobretudo... a melhor lembrança que eu tenho é da UTI... de quando acordei na UTI... de repente eu estava sonhando e senti um abraço morno... quase quente... e comecei a ir dando conta de mim mesma... e percebi que uma enfermeira (cujo nome eu não sei e nem sei se algum dia soube) estava me dando banho de leito... foi o melhor abraço que já recebi, porque ele me dizia assim: você tá viva!
Acho que é por isto que o 50/50 mexeu assim comigo.
Realmente... vivências assim mostram para a gente o que é realmente importante.
Não sei se virei uma pessoa melhor para os outros, depois daquela "problema". Eu sempre tive uma grande preocupação em ser uma pessoa boa para os outros.
Mas, com certeza, virei uma pessoa melhor para mim mesma.

4 comentários:

  1. Foram dias difíceis que passaram... e por ter passado por eles é que hj, mais do que ninguém, vc merece estar ai... bjo, LOVE U!!!

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  2. Mônica minha querida!!!

    Nós fomos educadas para sermos boas para os outros,não para nós mesmas.
    Nós aguentamos,somos duronas,não é assim?
    As mulheres "Moreira"são fortes,duras na queda!!
    Mas em algum momento a vida nos leva a refletir!
    Entramos em um "casulo",entramos em nós mesmas,buscamos lembranças boas do passado,amigos de nossa infância...
    Ou seja a vida nos mostra que temos que ser boa para nós mesmas!!!
    Que temos amigos maravilhosos,anjos que Deus colocou ao nosso lado,nem que seja por um breve momento!!
    Seu casulo foi na Europa (muito chique você).
    Tenho acompanhado suas reflexões,divagações...
    Tem um poema que diz mais ou menos assim..

    O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.

    Seu jardim está pronto,agora venha brincar com as borboletas!!!

    Beijos da prima que te admira MUITOOOO.

    Telma.

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  3. Sua prima disse tudo ,venha para seu jardim coberto de borboletas...e não é a da Darci,ou talvez até a dela.Putz,Mo ...vc me fez chorar prá caramba ,atrás daquela menina brincalhona tem uma mulher forte ,que eu admiro cada vez que conheço mais.
    Um beijo !!!

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  4. Monica, que texto lindo...que liçao de garra e vontade de viver em cada linha..! Estava me sentindo tristinha, ate ler isso aqui! Um beijo grande, Ketlin

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