quinta-feira, 19 de abril de 2012

Carimbo - nem sei mais quando escrevi isto... mas e pro mesmo do post anterior


Transformei meus olhos num carimbo
E pra todo canto que eu olho vou decalcando sua cara
Fico com a impressão de que assim a saudade vai doer menos.

Quando eu carimbo seu olhar sonso nos olhos de outro,
Seu riso rasgado na boca de um qualquer,
Aquela mechazinha de cabelo voando ao vento na cabeça de alguém,
Sinto se acalmar o colibri louco que bate as asas dentro do meu peito
E vou aprendendo verdadeiro significado da palavra lembrança.

segunda-feira, 26 de março de 2012

OI DE NOVO, PESSOAL

Muitos meses depois da minha última postagem senti saudades do blog.
Parece que ele perdeu a razão de ser, depois que a viagem à Europa terminou e a minha outra viagem pretendida pelo Brasil ainda não começou.
Mas hoje eu conversei com a Ketlin pelo Facebook e me deu saudades de escrever aqui.
E me dando saudades eu pensei em saudades e falta.
E pensando em saudades e falta, lembrei do homem da minha vida... aquele que até hoje povoa meu imaginário e de quem nunca fui esposa, noiva ou sequer namorada.
Acho que este homem, cujo nome não interessa, pois ele não é um "homem possível" ainda circula por aí... Espero que ele esteja vivo.
Ele não é alto, não é forte, não é especialmente bonito, mas é um "instrumentista"... nas suas mãos de "virtuose" eu me transformava em um Stradivarius.
Escrevi isto para ele tem muito tempo... muito tempo, mesmo... nem me lembro quanto tempo... e é tudo tão atual que chega a doer quando eu me lembro.
Então, "cheers" para o dono absoluto dos meus pensamentos de mulher.


DUAS MÔNICAS

Duas Mônicas lutam dentro de mim...
A primeira racional, centrada, equilibrada, madura, culta, educada, meio cínica, relê na memória tudo aquilo que acabou de ler.
Ri, é claro!
"Um sedutor profissional!" - é o diagnóstico.
Pensa: "quantas e quantas e quantas vezes estes mesmos termos teriam sido reeditados para outras Mônicas morenas e pequenas, não importa se chamassem elas Marias ou Terezas..." "...isto sem contar as louras Sílvias e as ruivas Luizas... as negras Stelas e - quem sabe? - uma bela índia, que aprendeu o português poemando, na preguiça da rede, só de ouvir os sussurros, os murmúrios e os gemidos desse homem branco que hospedou o diabo na ponta da língua."
A outra, a segunda Mônica, se esvai em sucos, sumos e suores. Não relê mentalmente aquele poema de corpos. Sabe rezá-lo de cor, já, porque o transformou em oração.
Arfante, pergunta-se a si mesma a razão do despertar simultâneo e súbito de cada um dos seus poros, de cada uma de suas saliências, de cada uma de suas reentrâncias...
Não é racional: é uterina, hormonal, passional, impulsiva, domada, mansa e fera, meio bicho... nem é gente! Fêmea pura!
Lá num cantinho escondido do seu cérebro, onde ela custa a chegar, ainda vislumbra a carinha de desagrado da outra Mônica, a reprovação estampada nos olhos sisudos. Ri intimamente da outra: sabe-a batida, derrotada.
Quer rezar, também, da forma lírica e fervorosa que aprendeu e descobre que não sabe mais. Ou que não o quer mais... descobre que não quer rezar com a voz... com a palavra... com o escrito, com o registrado.
Quer rezar com as pontinhas dos dedos; com a palma suave da mão. Rezar a um roçar de lábios, serenos e sôfregos, saciados e famintos, viajantes...
Crucificar de beijos o corpo desejado e se entristecer por não conseguir fazê-lo também, concretamente, com o espírito que o habita.
Deixar que suas mãos itinerantes tracem todas as cruzes e sinais de bênçãos na pele que a sua mão já pode sentir, ‘inda que sem conhecer.
Não sabe mais orar com a voz... sabe orar com a boca, ora suave, ora exigente.
Reza com a língua moleca que salta de um lado pro outro, sem sossego, sem trégua, sem parar, sentindo... provando, gostando...
Reza com seu corpo todo, pernas e braços envolvendo o corpo crucificado de beijos...
Descobre que sabe dançar e que dançando também se reza e dançando vê seu espírito se elevando do corpo, na mais linda, pura e inocente prece que já conheceu... antevê o céu - doce morte - para depois ressuscitar fundida em um outro eu - cada um o eu de si mesmo, quando passar o transe da oração - mas naquele instante gêmeos do desejo acalmado... acalentado... amainado, nem que por breves instantes.
É assim que foi.