quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Aqui em Lisboa é dia 20 de outubro

...mas aqui em Lisboa tem quase uma semana que é dia 20 de outubro.
Eu sempre pensei que cada mês só pudesse ter um dia com um número único.
Só um 20 de janeiro. Só um vinte de junho. Só um 20 de setembro... mas aqui o dia 20 de outubro se arrasta a quase uma dezena de dias...
Todos eles regados de lágrimas e de lembranças profundas.
Hoje o Diego, meu único filho, está fazendo 21 anos.
É claro que o "novo" Código Civil já acabou com aquela bobagem de maioridade plena aos 21 anos... mas não deixa de ser um marco.
Tantos dias 20 de outubro foram suficientes para que eu me lembrasse o dia em que desconfiei que estava grávida, em fevereiro de 1990, do dia que eu fui buscar o resultado do PREGNOSTICON (ainda existe isto?) no laboratório, dos tranquilos quase dez meses de prenhez, sem nenhum enjôo matinal.
A única coisa que atrapalhava era o inchaço dos pés, tipo aquele que a gente compra o sapato, joga ele fora e calça a caixa.
Ah! E a faixa vermelha da beca que eu herdei do meu pai e com a qual fazia os julgamentos na Auditoria Militar que, depois que a barriga cresceu o suficiente não dava a volta na cintura e eu tinha de emendar com um "alfinete de desmazelo".
Lembrei do dia que ele nasceu e, da hora exata que o Dr. Danilo Peroba tirou ele da minha barriga, enrolou nos paninhos e chegou aquele corpinho perto da minha cara para me mostrar meu filho: eu só via aqueles olhinhos de japonês...
Lembrei do primeiro dia que eu levei ele na creche (que eu tinha escolhido a dedo), com três meses de idade e de sentar no carro, depois disto, e chorar por vários minutos, mas não havia outra opção.
Lembrei da vomitação dele (depois descobrimos que tinha refluxo), do nariz melecado (depois descobrimos que era alérgico) e da cagação (depois descobrimos que ele era é cagão, mesmo! hahahahahahaha). Méritos do Tio Paulinho (Dr.  Paulo Sérgio Machado), um doce de pessoa e de médico.
Lembrei dele andando de carro, no banco de trás, no "moisés", porque a cadeira era cara e não podíamos comprar e do escândalo que ele fazia, chorando e berrando quando fechava o semáforo e ele queria continuar no balancinho do carro.
Lembrei da primeira vez que ele segurou a chupeta com a mãozinha e também de quando a tia Norma me contou que ele tinha ficado de pé no berço pela primeira vez.
Lembrei dos nossos passeios - ele no carrinho - na av. Gil Veloso, que, então, era de paralelepípedo e o menino ficava quicando que nem um boneco de mola.
Lembrei da primeira vez que a vovó Celi cortou o cabelo dele (e de como ele tinha nascido cascudo e com as unhas grandes... claro! nem uma égua fica prenhe tanto tempo!).

Lembrei do dia que ele teve gastroenterite, com uns dois anos de idade e do pavor (mas da força) de ter de segurar o bracinho dele para o açougueiro do enfermeiro encontrar a veia. Lembrei, também, da minha comadre chegando lá de manhãzinha, para eu não ficar sozinha. E da minha mãe chegando um ou dois dias depois.
Lembrei do dia que ele quebrou o braço e da minha calma (que eu não sei de onde retirei) para, sozinha, colocar ele escorado nos travesseiros do banco de trás do carro e ir com ele sozinha para o hospital. Do choro para tirar o "retratinho" do braço que "tava com dodói" e dos gritos dele, depois, quando o médico reduziu a fratura.
Lembrei das festas da Escola Santa Adame... ele sempre participando... cantando... dançando... e eu explodindo de orgulho... ou daquelas outras (tipo a merda da festa das mães) em que ficava ele chorando no palco e eu chorando na platéia.
Teve um dia que choramos tanto que uma senhora, daquelas bem "discretas" veio se imitidar e me perguntar porque que ele tava chorando. Eu tampei os dois ouvidinhos dele com as mãos e falei com ela bem baixinho que era porque o pai dele tinha morrido. Ela saiu ganindo que nem cachorro! Sou muito má, mesmo! hahahaha...
Lembrei do primeiro dente de leite que caiu e da Fada dos Dentes, que sempre comparecia (tenho todos os dentes até hoje... não sei pra que, mas tenho... aliás, tenho o primeiro ultrassom dele (feito pela mãe da Márgia Mauro), que veio um ano depois que eu perdi meu primeiro filho).
Lembrei da primeira festa de aniversário dele, com dois anos de idade. Uma superprodução. E ele aos berros com medo do palhaço e do coelho. Mas me lembrei, também, de quando ele quis um aniversário do Aladim e a Tia Nevinha fez a roupa do Aladim para ele. O menino suava que nem tampa de marmita, mas não quis tirar a roupa o aniversário inteiro.
Lembrei do primeiro presente de Natal que ele entendeu. Meu pai e minha mãe na minha casa, no edifício Concha Dourada. Um velotrol... amarrado com um barbante... e a gente ia puxando e ele cabeceando de sono, sentado em cima... mas não podia botar ele para dormir... ele tinha de aproveitar aquele velotrol ao máximo.
Lembrei das viagens que fizemos juntos, ele deitadinho no banco de trás do carro, dormindo... acordava e perguntava: tá chegando? ...e dormia de novo...
E as coisas doidas que a gente fazia nas viagens: no Beto Carreiro, por exemplo, ele pintou o cabelo (a cabeça, porque tava raspada) de um milhão de cores.
A luta com as dietas. A cirurgia. O pré-cirurgia - a Ellen lá em casa para dar um apoio - e eu o dia inteiro na cozinha fazendo caldinho (porque que descendente de italiano faz comida quanto tá nervoso?).
Lembrei da primeira vez que ele sentou no banco da frente do carro, quando fez 10 anos de idade, se sentindo um adulto!
Lembrei de tantas outras coisas... tantos outros parentes... tantas outras aventuras... que cheguei à conclusão de que Deus tinha sido muito parcimonioso comigo... eu não precisaria de uma dezena de dias 20 de outubro... eu precisaria de 20.000 dias 20 de outubro para relembrar todas estas coisas boas, engraçadas, pitorescas e tristes que vivemos nestes 21 anos.
Então tá bom!
Valeu, Deus!
Parabéns, meu filho!
Te amo

2 comentários:

  1. Chorando aqui ...meus filhos são quarentões e a minha memória de suas histórias diminuiu muito ...mas tenho duas netas gêmeas de 20 anos ,fazem agora dia 30/10...eu tb tenho lembranças fortes assim ...Mô ,que amor bonito que sei sentido e agora eternizado nessas linhas .Um beijo
    MRegina

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  2. Que lindo isso, Monica!
    Um beijo,Ketlin

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