Muitos meses depois da minha última postagem senti saudades do blog.
Parece que ele perdeu a razão de ser, depois que a viagem à Europa terminou e a minha outra viagem pretendida pelo Brasil ainda não começou.
Mas hoje eu conversei com a Ketlin pelo Facebook e me deu saudades de escrever aqui.
E me dando saudades eu pensei em saudades e falta.
E pensando em saudades e falta, lembrei do homem da minha vida... aquele que até hoje povoa meu imaginário e de quem nunca fui esposa, noiva ou sequer namorada.
Acho que este homem, cujo nome não interessa, pois ele não é um "homem possível" ainda circula por aí... Espero que ele esteja vivo.
Ele não é alto, não é forte, não é especialmente bonito, mas é um "instrumentista"... nas suas mãos de "virtuose" eu me transformava em um Stradivarius.
Escrevi isto para ele tem muito tempo... muito tempo, mesmo... nem me lembro quanto tempo... e é tudo tão atual que chega a doer quando eu me lembro.
Então, "cheers" para o dono absoluto dos meus pensamentos de mulher.
DUAS MÔNICAS
Duas Mônicas lutam dentro de mim...
A primeira racional, centrada, equilibrada, madura, culta, educada, meio cínica, relê na memória tudo aquilo que acabou de ler.
Ri, é claro!
"Um sedutor profissional!" - é o diagnóstico.
Pensa: "quantas e quantas e quantas vezes estes mesmos termos teriam sido reeditados para outras Mônicas morenas e pequenas, não importa se chamassem elas Marias ou Terezas..." "...isto sem contar as louras Sílvias e as ruivas Luizas... as negras Stelas e - quem sabe? - uma bela índia, que aprendeu o português poemando, na preguiça da rede, só de ouvir os sussurros, os murmúrios e os gemidos desse homem branco que hospedou o diabo na ponta da língua."
A outra, a segunda Mônica, se esvai em sucos, sumos e suores. Não relê mentalmente aquele poema de corpos. Sabe rezá-lo de cor, já, porque o transformou em oração.
Arfante, pergunta-se a si mesma a razão do despertar simultâneo e súbito de cada um dos seus poros, de cada uma de suas saliências, de cada uma de suas reentrâncias...
Não é racional: é uterina, hormonal, passional, impulsiva, domada, mansa e fera, meio bicho... nem é gente! Fêmea pura!
Lá num cantinho escondido do seu cérebro, onde ela custa a chegar, ainda vislumbra a carinha de desagrado da outra Mônica, a reprovação estampada nos olhos sisudos. Ri intimamente da outra: sabe-a batida, derrotada.
Quer rezar, também, da forma lírica e fervorosa que aprendeu e descobre que não sabe mais. Ou que não o quer mais... descobre que não quer rezar com a voz... com a palavra... com o escrito, com o registrado.
Quer rezar com as pontinhas dos dedos; com a palma suave da mão. Rezar a um roçar de lábios, serenos e sôfregos, saciados e famintos, viajantes...
Crucificar de beijos o corpo desejado e se entristecer por não conseguir fazê-lo também, concretamente, com o espírito que o habita.
Deixar que suas mãos itinerantes tracem todas as cruzes e sinais de bênçãos na pele que a sua mão já pode sentir, ‘inda que sem conhecer.
Não sabe mais orar com a voz... sabe orar com a boca, ora suave, ora exigente.
Reza com a língua moleca que salta de um lado pro outro, sem sossego, sem trégua, sem parar, sentindo... provando, gostando...
Reza com seu corpo todo, pernas e braços envolvendo o corpo crucificado de beijos...
Descobre que sabe dançar e que dançando também se reza e dançando vê seu espírito se elevando do corpo, na mais linda, pura e inocente prece que já conheceu... antevê o céu - doce morte - para depois ressuscitar fundida em um outro eu - cada um o eu de si mesmo, quando passar o transe da oração - mas naquele instante gêmeos do desejo acalmado... acalentado... amainado, nem que por breves instantes.
É assim que foi.